Apocalipse 22.1-6
INTRODUÇÃO
Quem deseja ser agraciado pelas bênçãos de Deus? Quem
deseja receber de Deus o seu milagre? Que gostaria de ver a sua vida livre dos
problemas, das dificuldades, das angustias e medos? Quem sonha e receber de
Deus a solução para aquele grande problema que está vivendo? Creio que a
maioria de nós que estamos aqui responderia “eu desejo”, e isso não é algo
errado ou um problema. Pelo contrário, creio que isto é absolutamente normal.
Mas essa palavra não é sobre as bênçãos que Deus tem para todos nós.
Também não se trata dos milagres de Deus em nossas vidas. Não se trata do que o
Senhor poder fazer por nós, pelo contrário. Nesse momento a Palavra do Senhor é
sobre o que o nós podemos fazer pelo Senhor o nosso Deus.
Ninguém gosta muito da ideia de servir. Geralmente
gostamos de ser servidos, mas é interessante notar que Cristo, ao vir a esta
terra, disse que não veio ser servido, mas SERVIR. Ele, que é digno de toda
honra, escolheu servir para nos dar o Exemplo. A Bíblia deixa
claro que o crente deve ser um imitador de Jesus Cristo: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus" (Filipenses 2. 5)
No entanto, todo crente tem grande
prazer em declarar que é um servo(a) de Deus. Mas nem todos refletem nos
privilégios, na importância e na responsabilidade que isto significa. Isso é
tão importante para o crente pelo simples fato de Cristo ser chamado de Servo
de Deus, (Is 42.1; 52.13 e Fp 2.7).
Temos que assumir verdadeiramente
a forma de servo, pois Deus deseja que sejamos conhecidos como servos, ou seja,
pessoas comprometidas com Ele e com o próximo, não preocupadas ou impulsionadas
somente por bênçãos, ou momentos de prazer e alegria em nossas vidas.
Deveríamos ter muito
mais pessoas interessadas em ser servas que interessadas e focadas nas tão
sonhadas bênçãos. Não que seja errado buscar as bênçãos
de Deus, errado mesmo é não querer ser
um servo.
Mas afinal o que é ser servo? O que essa palavra
deve significar para nós? O que é que a bíblia fala sobre nós como servos?
Afinal o que significa ser servo de Deus como tanto nos orgulhamos em dizer que
somos? A palavra servo no original tem vários sentidos e cada um deles nos
ensina o que Deus espera de nós como servos fiéis.
O SERVO EM
RELAÇÃO AO SEU DONO
Em primeiro lugar o termo servo é uma tradução do
grego DOULOS, que significa
empregado, mas especificamente escravo. Revela um sentido de
subordinação, obrigação e responsabilidade para com o seu Senhor.
Romanos cap. 1:1, diz o seguinte: “Paulo servo
de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus.”
O sentido empregado aqui – e em várias outras passagens – para a
palavra servo era de um escravo
mesmo — uma pessoa que fora destituída de tudo que possuía neste mundo. Perdera
a liberdade, a autonomia pessoal, a vontade própria, e até o nome. Fora vendido
no mercado como um animal. Uma etiqueta com o preço fora dependurada ao seu
pescoço, e os interessados haviam discutido a respeito do seu valor. Mas, no
fim, alguém o adquirira, e o levara pra casa. Depois, fizera uma perfuração em
sua orelha e colocara nele um brinco de argola que trazia inscrito o nome do
seu dono. E então ele perdera sua identidade. Não se chamava mais João ou
Pedro, mas sim o escravo do Sr. Fulano de Tal.
Nesse sentido somos o doulos, escravos de
Deus. Servos em relação a Jesus Cristo
nosso Senhor, para fazermos a sua vontade. Somos suas propriedades, sem vontade
própria, comprados por um alto preço para servir ao nosso Senhor.
Ao iniciar sua carta aos romanos, Paulo ao
apresentar-se como apóstolo, apresenta-se como “servo de Cristo Jesus” como escravo
De Cristo. Um empregado qualquer tem a liberdade de ir e vir, de ligar-se a
outro emprego, mas um escravo é possessão de seu senhor para sempre. Paulo, ao
se chamar de escravo de Cristo:
Deixa claro
que é possessão absoluta de Cristo. Jesus o amou
e o comprou mediante um alto preço (1 Co. 6.20). Por isso, não pode pertencer a
mais ninguém além de Jesus Cristo.
Deixa claro que
deve a Cristo obediência absoluta. O escravo não
tem vontade própria; sua vontade é fazer a vontade do seu senhor. As decisões
do seu senhor são as que regem a sua vida. Paulo não tem outra vontade senão a
de Cristo. Seu projeto de vida é obedecer a Ele.
Deixa claro ainda que
ser servo de Cristo é a maior honra. Esse é o mais
elevado dos títulos. A escravidão cristã não é uma sujeição humilhante e
degradante; pelo contrário, como disse Agostinho, quando mais servos de Cristo
somos, mais livres nos sentimos. Ser escravo de Cristo é ser rei. Ser escravo
de Cristo é o caminho para a liberdade perfeita. Porque somos escravos de
Cristo, somos livres da penalidade, da escravidão e da degradação do
pecado.
O SERVO EM
RELAÇÃO AO SEU TRABALHO PARA DEUS
Um segundo significado para servo no
original é DIAKONOS; isto é, servo em relação ao trabalho
que executa para seu senhor. Trabalho abundante, de bom gosto, boa vontade,
prazeroso, bem acabado, no prazo determinado e conforme as ordens recebidas.
Diákonos é outra palavra
largamente usada no Novo Testamento para se referir ao ministério. No grego
secular, o termo diákonos significava servir à mesa, ou seja,
um garçom. O trabalho envolvia sujeição pessoal, que era considerada indigna e
indecorosa para um homem livre. Também poderia referir-se simplesmente a cuidar
das necessidades do lar e, às vezes, era também usado para indicar qualquer
trabalho num sentido mais genérico, como prestar serviço a uma causa. O termo
também foi muito usado no Novo Testamento para referir-se ao trabalho dos
diáconos na assistência social, 1Tm 3:10, 13; Rm 16:1; Fp 1:1;
1Tm 3:8, 12.
Nos dias bíblicos o servo era como
diakonos, que na casa do seu senhor executava todos os trabalhos, inclusive os
mais humildes, como levar e trazer recados, cuidar da copa, da cozinha, dos
bens de seu senhor, animais domésticos, rachar lenha, manter o fogo aceso,
tirar água e carregá-Ia para a família.
Em Mateus cap. 20:26 e 27 Jesus
responde ao pedido da mãe de dois de seus discípular com a seguinte frase: “Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser
entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser
ser o primeiro, seja vosso servo.”
Jesus nos
chama a atenção para o fato de que se quisermos ser o maior no Reino de Deus,
precisamos aprender a servir, a trabalhar por Sua casa e pelos homens. Isso porque o servo diácono da Bíblia é alguém comissionado
para servir humildemente ao próximo, é alguém que se entrega sem reserva ao
serviço cristão.
É preciso entender que não somos
chamados para sermos estrelas, ou melhores que os outros. Não devemos buscar
privilégios, nem nos tornarmos arrogantes ao ponto de queremos estar lado a
lado com Cristo. Somos seus servos e como tal devemos fazer a obra que ele nos
deu a fazer. Somos chamados para trabalhar para Deus e para o próximo, com base
nos tantos exemplos que Jesus deixou para nós.
O servo diácono foca sua vida em Deus e no próximo,
e disso decorrem suas verdadeiras bênçãos. O que só procura bênçãos foca sua
vida em si mesmo, e disso decorre seu egoísmo e não imitação de Cristo. O que
procura prestígio não encontra a graça de Deus. Que procura a aprovação dos
homens, não tem recompensa no céu. A maior honra para o cristão deve ser a de
servir na casa de Deus e ao seu próximo.
O SERVO EM
RELAÇÃO A SI MESMO
O servo em
relação a si mesmo no original é HUPERETES;
e está relacionado ao desempenho do diakonos. Huperetes designava nas
embarcações comerciais da época, o remador escravo, da terceira fileira de
remadores (a última, de cima para baixo) nos navios trirremes. O trabalho dos
huperetes não era visto, por ficar ele muito abaixo, na embarcação. Seu
trabalho era humilde, pesado, mourejante e requeria o máximo das forças desses
trabalhadores. Huperetes
era o remador inferior (ajudante de remador) não é servo (diácono) nem escravo
(doulos), é viver sob ordem de um superior.
Nesse
sentido, ser servo é não buscar a honra para si, ao contrário. Era o esforço do
ajudante de remador que impulsionava o navio, mas na posição em que ele se
encontrava não podia nem ser visto.
Ser
servo no sentido aqui apresentado é servir até quem já é servo. O navio tem o
capitão que ordena ao mestre timoneiro, que por sua vez dá ordem ao remador que
ainda é superior ao ajudante.
Partindo
desse conceito, notamos como são erradas as atitudes de certos obreiros ao
acharem que quantos mais degraus eclesiásticos subirem na igreja, mais
imponência terão diante do povo. O efeito é justamente o contrário, quanto mais
subimos mais a nossa responsabilidade e serviço aumentam. Não deixamos de ser
diácono ao assumirmos a função de presbítero, e este não deixa de ser quando
assume a função de evangelista, o que na realidade acontece é que acumulamos as
funções anteriores.
Paulo
primeiro na lista de importância na edificação da igreja e o último a ser
reconhecido na igreja local. A nobreza do ministério reside no chamamento
divino, fazer parte do conselho de Deus na terra, representando: misericórdia,
amor, graça e justiça divina. Deus não esta interessado em título, mas no
comprometimento do obreiro com sua chamada.
Precisamos
entender que não é o título ministerial que enobrece o ministério, pois este se
refere apenas a uma forma de identificação, o que conta mesmo e a disposição do
servo em atrair para si a responsabilidade dada por Cristo que é servir ao
próximo.
Conta-se que certo pregador foi apresentado com
grande vibração. Tocaram-se instrumentos como introdução, os holofotes foram
acesos, enquanto outra pessoa anunciava: “E agora, o grande servo de Deus, o
Sr. Fulando de Tal.”
Se alguém é grande, não é servo. E se é servo, não
é grande. Servos compreendem que não valem nada. Um servo é inútil se não fizer
a vontade do seu senhor.
CONCLUSÃO
Em Lucas 17.10 Jesus nos instruiu que
após fazermos tudo o que nos for ordenado, devemos considerar-nos como servos
inúteis (diakonos, no original). Sem qualquer méritos em nós mesmos. Noutras
palavras: Deus nunca será nosso devedor. Nós é que devemos tudo a Ele. O
termo "inútil" corresponde a "desprovido de mérito
adquirido".
Devemos tanto a Deus, que na execução
do seu trabalho, seja ele qual for, nunca iremos além do nosso dever; nunca
atingiremos a área do mérito. Para servimos a Deus, é Dele mesmo que nos vem a
graça, capacidade, dons e recursos. Mesmo que façamos o melhor, estaremos
sempre em falta com Ele.
Fomos graciosamente resgatados da
miserável servidão do pecado, por preço incalculável, o do sangue precioso de
Jesus, (I Pd 1.18-19). Somos para sempre devedores a Deus e temos que nos
render voluntária e plenamente a Ele como Redentor. Por nossa plena submissão
como servos é que desfrutamos da verdadeira liberdade espiritual (Ef 6.6).
Mas muitas vezes nos encontramos em
posição invertida. Os senhores se sentam nos bancos das igreja e tratam a Jesus
como escravo deles. Oram dizendo “Senhor”, mas a atitude é outra. Esperam que
Deus os sirva em suas necessidades.
Servos não dizer: “Senhor, faça isso
ou aquilo”. Servos na verdade dizem: “Senhor, que queres que eu faça?”.
Nós somos
escravos de Jesus Cristo. Pode ser que não gostemos de ouvir, mas é isso que
somos. “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se
vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte
que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” Romanos cap. 14:7-9.
No céu, conforme lemos Apocalipse
22.3, não seremos conhecidos como diácono, presbítero, evangelista, pastor,
escritor, cantor, bispo etc, mas como servos. "E nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o
servirão".
Portanto, é da vontade de Deus não somente que O
sirvamos, mas também que sirvamos uns aos outros com TODO coração e com AMOR,
pois a Bíblia nos declara que Jesus veio à terra em forma de servo, para servir
e cumprir a vontade do Pai. Precisamos aprender a servir como Deus quer. Eis o
grande desafio desta época.
Para concluir que deixar uma frase que ouvi
assistindo um seriado essa semana: “Não
oro a Deus para pedir coisa. Oro para perguntar o que posso fazer para Ele!”.
Que Deus nos ajude a sermos servos bons, fiéis e
sempre úteis, assim como o Seu Filho Jesus foi.
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