IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DE PENDÊNCIAS


Monday, July 02, 2012

EU, UM SERVO?




Apocalipse 22.1-6

INTRODUÇÃO

Quem deseja ser agraciado pelas bênçãos de Deus? Quem deseja receber de Deus o seu milagre? Que gostaria de ver a sua vida livre dos problemas, das dificuldades, das angustias e medos? Quem sonha e receber de Deus a solução para aquele grande problema que está vivendo? Creio que a maioria de nós que estamos aqui responderia “eu desejo”, e isso não é algo errado ou um problema. Pelo contrário, creio que isto é absolutamente normal.

Mas essa palavra não é sobre as bênçãos que Deus tem para todos nós. Também não se trata dos milagres de Deus em nossas vidas. Não se trata do que o Senhor poder fazer por nós, pelo contrário. Nesse momento a Palavra do Senhor é sobre o que o nós podemos fazer pelo Senhor o nosso Deus.

Ninguém gosta muito da ideia de servir. Geralmente gostamos de ser servidos, mas é interessante notar que Cristo, ao vir a esta terra, disse que não veio ser servido, mas SERVIR. Ele, que é digno de toda honra, escolheu servir para nos dar o Exemplo. A Bíblia deixa claro que o crente deve ser um imitador de Jesus Cristo: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" (Filipenses 2. 5)
No entanto, todo crente tem grande prazer em declarar que é um servo(a) de Deus. Mas nem todos refletem nos privilégi­os, na importância e na responsabilidade que isto significa. Isso é tão importante para o crente pelo simples fato de Cristo ser cha­mado de Servo de Deus, (Is 42.1; 52.13 e Fp 2.7).
Temos que assumir verdadeiramente a forma de servo, pois Deus deseja que sejamos conhecidos como servos, ou seja, pessoas comprometidas com Ele e com o próximo, não preocupadas ou impulsionadas somente por bênçãos, ou momentos de prazer e alegria em nossas vidas.

Deveríamos ter muito mais pessoas interessadas em ser servas que interessadas e focadas nas tão sonhadas bênçãos. Não que seja errado buscar as bênçãos de Deus,  errado mesmo é não querer ser um servo.

Mas afinal o que é ser servo? O que essa palavra deve significar para nós? O que é que a bíblia fala sobre nós como servos? Afinal o que significa ser servo de Deus como tanto nos orgulhamos em dizer que somos? A palavra servo no original tem vários sentidos e cada um deles nos ensina o que Deus espera de nós como servos fiéis.



O SERVO EM RELAÇÃO AO SEU DONO

Em primeiro lugar o termo servo é uma tradução do grego DOULOS, que significa empregado, mas especificamente escravo. Revela um sentido de subordinação, obrigação e responsabilidade para com o seu Senhor.

Romanos cap. 1:1, diz o seguinte: “Paulo servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus.”

O sentido empregado aqui – e em várias outras passagens – para a palavra servo era de um escravo mesmo — uma pessoa que fora destituída de tudo que possuía neste mundo. Perdera a liberdade, a autonomia pessoal, a vontade própria, e até o nome. Fora vendido no mercado como um animal. Uma etiqueta com o preço fora dependurada ao seu pescoço, e os interessados haviam discutido a respeito do seu valor. Mas, no fim, alguém o adquirira, e o levara pra casa. Depois, fizera uma perfuração em sua orelha e colocara nele um brinco de argola que trazia inscrito o nome do seu dono. E então ele perdera sua identidade. Não se chamava mais João ou Pedro, mas sim o escravo do Sr. Fulano de Tal.

Nesse sentido somos o doulos, escravos de Deus.  Servos em relação a Jesus Cristo nosso Senhor, para fazermos a sua vontade. Somos suas propriedades, sem vontade própria, comprados por um alto preço para servir ao nosso Senhor.

Ao iniciar sua carta aos romanos, Paulo ao apresentar-se como apóstolo, apresenta-se como “servo de Cristo Jesus” como escravo De Cristo. Um empregado qualquer tem a liberdade de ir e vir, de ligar-se a outro emprego, mas um escravo é possessão de seu senhor para sempre. Paulo, ao se chamar de escravo de Cristo:
Deixa claro que é possessão absoluta de Cristo. Jesus o amou e o comprou mediante um alto preço (1 Co. 6.20). Por isso, não pode pertencer a mais ninguém além de Jesus Cristo.
Deixa claro que deve a Cristo obediência absoluta. O escravo não tem vontade própria; sua vontade é fazer a vontade do seu senhor. As decisões do seu senhor são as que regem a sua vida. Paulo não tem outra vontade senão a de Cristo. Seu projeto de vida é obedecer a Ele.
Deixa claro ainda que ser servo de Cristo é a maior honra. Esse é o mais elevado dos títulos. A escravidão cristã não é uma sujeição humilhante e degradante; pelo contrário, como disse Agostinho, quando mais servos de Cristo somos, mais livres nos sentimos. Ser escravo de Cristo é ser rei. Ser escravo de Cristo é o caminho para a liberdade perfeita. Porque somos escravos de Cristo, somos livres da penalidade, da escravidão e da degradação do pecado. 
O SERVO EM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO PARA DEUS

Um segundo significado para servo no original é DIAKO­NOS; isto é, servo em relação ao traba­lho que executa para seu senhor. Tra­balho abundante, de bom gosto, boa vontade, prazeroso, bem acabado, no prazo determinado e conforme as or­dens recebidas.
Diákonos é outra palavra largamente usada no Novo Testamento para se referir ao ministério. No grego secular, o termo diákonos significava servir à mesa, ou seja, um garçom. O trabalho envolvia sujeição pessoal, que era considerada indigna e indecorosa para um homem livre. Também poderia referir-se simplesmente a cuidar das necessidades do lar e, às vezes, era também usado para indicar qualquer trabalho num sentido mais genérico, como prestar serviço a uma causa. O termo também foi muito usado no Novo Testamento para referir-se ao trabalho dos diáconos na assistência social, 1Tm 3:10, 13; Rm 16:1; Fp 1:1; 1Tm 3:8, 12.
Nos dias bíblicos o servo era como diakonos, que na casa do seu senhor executava todos os trabalhos, inclusi­ve os mais humildes, como levar e trazer recados, cuidar da copa, da cozinha, dos bens de seu senhor, animais domésticos, rachar lenha, manter o fogo aceso, tirar água e carregá-Ia para a família.
Em Mateus cap. 20:26 e 27 Jesus responde ao pedido da mãe de dois de seus discípular com a seguinte frase: Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.”
Jesus nos chama a atenção para o fato de que se quisermos ser o maior no Reino de Deus, precisamos aprender a servir, a trabalhar por Sua casa e pelos homens. Isso porque o servo diácono da Bíblia é alguém comissionado para servir humildemente ao próximo, é alguém que se entrega sem reserva ao serviço cristão. 
É preciso entender que não somos chamados para sermos estrelas, ou melhores que os outros. Não devemos buscar privilégios, nem nos tornarmos arrogantes ao ponto de queremos estar lado a lado com Cristo. Somos seus servos e como tal devemos fazer a obra que ele nos deu a fazer. Somos chamados para trabalhar para Deus e para o próximo, com base nos tantos exemplos que Jesus deixou para nós.
O servo diácono foca sua vida em Deus e no próximo, e disso decorrem suas verdadeiras bênçãos. O que só procura bênçãos foca sua vida em si mesmo, e disso decorre seu egoísmo e não imitação de Cristo. O que procura prestígio não encontra a graça de Deus. Que procura a aprovação dos homens, não tem recompensa no céu. A maior honra para o cristão deve ser a de servir na casa de Deus e ao seu próximo.


O SERVO EM RELAÇÃO A SI MESMO

O servo em relação a si mesmo no original é HUPERETES; e está relaciona­do ao desempenho do diakonos. Huperetes designava nas embarcações comerciais da época, o remador escra­vo, da terceira fileira de remadores (a última, de cima para baixo) nos navios trirremes. O trabalho dos huperetes não era visto, por ficar ele muito abaixo, na embarcação. Seu trabalho era hu­milde, pesado, mourejante e requeria o máximo das forças desses trabalha­dores. Huperetes era o remador inferior (ajudante de remador) não é servo (diácono) nem escravo (doulos), é viver sob ordem de um superior.

Nesse sentido, ser servo é não buscar a honra para si, ao contrário. Era o esforço do ajudante de remador que impulsionava o navio, mas na posição em que ele se encontrava não podia nem ser visto.

Ser servo no sentido aqui apresentado é servir até quem já é servo. O navio tem o capitão que ordena ao mestre timoneiro, que por sua vez dá ordem ao remador que ainda é superior ao ajudante.

Partindo desse conceito, notamos como são erradas as atitudes de certos obreiros ao acharem que quantos mais degraus eclesiásticos subirem na igreja, mais imponência terão diante do povo. O efeito é justamente o contrário, quanto mais subimos mais a nossa responsabilidade e serviço aumentam. Não deixamos de ser diácono ao assumirmos a função de presbítero, e este não deixa de ser quando assume a função de evangelista, o que na realidade acontece é que acumulamos as funções anteriores.

Paulo primeiro na lista de importância na edificação da igreja e o último a ser reconhecido na igreja local. A nobreza do ministério reside no chamamento divino, fazer parte do conselho de Deus na terra, representando: misericórdia, amor, graça e justiça divina. Deus não esta interessado em título, mas no comprometimento do obreiro com sua chamada.

Precisamos entender que não é o título ministerial que enobrece o ministério, pois este se refere apenas a uma forma de identificação, o que conta mesmo e a disposição do servo em atrair para si a responsabilidade dada por Cristo que é servir ao próximo.

Conta-se que certo pregador foi apresentado com grande vibração. Tocaram-se instrumentos como introdução, os holofotes foram acesos, enquanto outra pessoa anunciava: “E agora, o grande servo de Deus, o Sr. Fulando de Tal.”

Se alguém é grande, não é servo. E se é servo, não é grande. Servos compreendem que não valem nada. Um servo é inútil se não fizer a vontade do seu senhor.


CONCLUSÃO

Em Lucas 17.10 Jesus nos instruiu que após fazermos tudo o que nos for ordenado, devemos considerar-nos como servos inúteis (diakonos, no ori­ginal). Sem qualquer méritos em nós mesmos. Noutras palavras: Deus nun­ca será nosso devedor. Nós é que de­vemos tudo a Ele. O termo "inútil" corresponde a "desprovido de mérito adquirido".
Devemos tanto a Deus, que na exe­cução do seu trabalho, seja ele qual for, nunca iremos além do nosso dever; nun­ca atingiremos a área do mérito. Para servimos a Deus, é Dele mesmo que nos vem a graça, capacidade, dons e recur­sos. Mesmo que façamos o melhor, es­taremos sempre em falta com Ele.
Fomos graciosamente resgatados da miserável servidão do pecado, por pre­ço incalculável, o do sangue precioso de Jesus, (I Pd 1.18-19). Somos para sempre devedores a Deus e temos que nos render voluntária e plenamente a Ele como Redentor. Por nossa plena submissão como servos é que desfruta­mos da verdadeira liberdade espiritual (Ef 6.6).
Mas muitas vezes nos encontramos em posição invertida. Os senhores se sentam nos bancos das igreja e tratam a Jesus como escravo deles. Oram dizendo “Senhor”, mas a atitude é outra. Esperam que Deus os sirva em suas necessidades.
Servos não dizer: “Senhor, faça isso ou aquilo”. Servos na verdade dizem: “Senhor, que queres que eu faça?”.
Nós somos escravos de Jesus Cristo. Pode ser que não gostemos de ouvir, mas é isso que somos. “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” Romanos cap. 14:7-9.
No céu, conforme lemos Apocalipse 22.3, não seremos conhecidos como diácono, presbítero, evangelista, pastor, escritor, cantor, bispo etc, mas como servos. "E nela estará o trono de Deus e do Cor­deiro, e os seus servos o servirão".
Portanto, é da vontade de Deus não somente que O sirvamos, mas também que sirvamos uns aos outros com TODO coração e com AMOR, pois a Bíblia nos declara que Jesus veio à terra em forma de servo, para servir e cumprir a vontade do Pai. Precisamos aprender a servir como Deus quer. Eis o grande desafio desta época.

Para concluir que deixar uma frase que ouvi assistindo um seriado essa semana: “Não oro a Deus para pedir coisa. Oro para perguntar o que posso fazer para Ele!”.

Que Deus nos ajude a sermos servos bons, fiéis e sempre úteis, assim como o Seu Filho Jesus foi.

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