por Clepson de Oliveira Brito
Introdução
Das datas cristãs que hoje comemoramos em festa nenhuma parece ter perdido tanto o sentido como a páscoa. Assim como as luzes tem escurecido o natal, o chocolate tem deixado amarga a páscoa.
A páscoa, como ponto máximo de uma semana repleta de dias “santos” a muito deixou de ser uma celebração a vida, a restauração da condição humana e a libertação do povo preso. Tornou-se meramente uma boa data para o comércio, tempo de presentes fúteis e bebedices.
A Semana Santa perdeu o sentido de período de sacrifício e de reflexão. Até mesmo o tradicionalismo irracional envolto nesse dias já não é mais praticado.
Vivemos tempos em que o que importa é a satisfação pessoal e os prazeres momentâneos. Muitos nem sabem o significa páscoa, e só conseguem associar esta palavra ao coelho e aos ovos de chocolate.
Outros ainda, quando se aproxima perto do período da páscoa procuram estarem presentes em alguma igreja para compensar a falta de fervor religioso acumulado em mais um ano. Estes, apesar de aparentarem certo conhecimento sobre o significado da palavra, estão tão longe quantos os outros da essência desses dias, do seu real significado, da sua verdadeira natureza.
A Páscoa, na verdade, trata-se de uma festa pagã que se incorporou ao Catolicismo Romano e foi usada como um substituto para as comemorações judaicas da Passagem, dos Pães Ázimos e dos Primeiros Frutos — todas celebradas em três dias consecutivos durante a primeira semana do ano novo judaico. Deus pretendia que essas comemorações fossem "tipos" do futuro Messias e foram todas cumpridas à risca como "antitipos" na morte, sepultamento e na ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Para nós há um sentido claro: a Páscoa traduz um sepulcro vazio, um sepulcro que se tornou a base de toda a nossa fé, pois esse sepulcro vazio aponta a ressurreição de Cristo como um fato inegável. Muito podem negar a ressurreição de Cristo, mas não conseguem esconder o fato de que aquele túmulo está vazio.
Irmãos, não pretendo falar diretamente sobre o Cristo Ressurreto, mas dos significados que o sepulcro tem para nós, comparando a nossa vidas com os diversos estados do sepulcro.
Leiamos o que a bíblia nos diz sobre o sepulcro de Jesus.
1 E, NO fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
2 E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra da porta, e sentou-se sobre ela.
3 E o seu aspecto era como um relâmpago, e as suas vestes brancas como neve.
4 E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos.
5 Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado.
6 Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia.
7 Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dentre os mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. Eis que eu vo-lo tenho dito.
8 E, saindo elas pressurosamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos.
9 E, indo elas a dar as novas aos seus discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram.
10 Então Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galiléia, e lá me verão.
1 – O SEPULCRO CHEIO
Jesus, o grande pregador, seguido por muitos, estava morto. Essa era a novidade da manhã de domingo quando Maria Madalena e outra Maria foram ao sepulcro. A missão delas era ungir o corpo de Jesus, que naquele momento, ao terceiro dia, certamente já estaria entrado em estado de decomposição.
Jesus, o profeta, seguido por muitos estava morto. A desesperança e o medo se apoderaram de seus discípulos. Estes se escondiam temendo destino semelhante. Alguns fugiram; Pedro o negou. A morte era a terrível realidade do fim.
Jesus, o líder libertador, seguido por muitos estava morto. Há que diga que Judas Iscariotes o traiu pensando que ele se rebelaria provocando a revolução que libertaria o seu povo. Agora, a morte punha fim à espera de libertação.
O sepulcro estava cheio. O corpo de Jesus estava nele sepultado e com junto com ele a esperança de milhares de pessoas.
O sepulcro cheio representa a vitória da morte e a morte representa a vitória do pecado, pois como diz a bíblia “o salário do pecado é a morte”. O sepulcro cheio simboliza a vitória de tudo aquilo que quer nos destruir. Representa o fim dos sonhos, da esperança e da crença. Foi assim para aqueles homens que perderam tudo com a morte de Jesus: liberdade, esperança, ideais e a fé.
Certamente o Diabo estava feliz com aquela cena: o Filho de Deus morto e sepultado. Era a sua vitória sobre o mundo.
O sepulcro estava cheio: cheio de morte, cheio de podridão, cheio de fracasso. Um corpo em decomposição, cheirando mal e sem sentido, pois já não existia enquanto ser. Sem vida, sem sentido, sem razão.
O que tudo isso nos diz hoje em dia? Que sentindo tem o sepulcro cheio para nós?
Irmão, muitas vezes estamos como este sepulcro cheio. Quantos de nós já não esteve sem espaço para a vida porque estávamos cheio de pecado e podridão? Quantos não conseguem ver um futuro porque uma grande pedra fecha a sua porta? Quanto não tem uma via sem sentido, sem razão? Quanto não estão sentindo o cheio de podre de sua própria decomposição e buscam na bebida e nas drogas um ungüento para as suas dores? Quantos por causa do sepulcro cheio não tentam fugir desta vida através do suicídio?
Estamos em mundo de sepulcros cheios. Parece não haver esperanças, possibilidades de libertação. Um mundo sem vida, sem luz. Um mundo de um deus morto.
O sepulcro de muitos está cheio, irmão, e nós as vezes só temos levado especiarias para ungir os corpos em decomposição, muitas vezes preocupados com que irá tirar a grande pedra para nós.
O mundo jaz no maligno. O que jaz é o que está morto. O mundo está morto, apodrecendo em um sepulcro cheio, e nós estamos como aqueles que choravam diante do túmulo de Lázaro: apenas choramos, sem esperanças de nova vida; falamos palavras sem sentido, que para nós parecem importantes, mas não trazemos a vida de volta.
Sem esperanças, sem libertação, sem vida! Um sepulcro cheio!
2 – O SEPULCRO CAIADO
O apóstolo João, escrevendo sobre o sepultamento de Jesus diz: “Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro. E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto. Ali, pois (por causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus.
O corpo de Jesus foi sepultado em um sepulcro novo. Ser novo significa que esta sem uso. Um sepulcro novo estava vazio e depois foi cheio do corpo de Jesus.
Jesus, pouco antes de sua prisão e posterior crucificação fez um intenso ataque cheio de acusações contra os fariseus e mestres da lei narrado no capítulo 23 de Mateus, de onde quero destacar os versículos 27 e 28:
“27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.
28 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.”
Sepulcros caiados. Essa é uma acusação de Jesus aos religiosos da sua época.
Um sepulcro caiado é algo que parece novo e limpo, mas na verdade não passa de mera aparência. Parece aos de fora bonito e preparado para algo especial. Mas ao adentrarmos no seu interior vemos toda a imundice.
Jesus nesse texto acuso os religiosos de sua época de hipócritas, atores que encenam uma vida de santidade e devoção, mas que na verdade estão mortos em sua própria iniqüidade. São sepulcros cheios de todo tipo de imundice. São bonitos por fora, mas estão cheio de ossos secos. Por fora parecem justos, mas por dentro estão cheio de hipocrisia e maldade.
Diferentes do sepulcro de José de Arimatéia, estes não estão prontos para receber a Jesus. Não estão preparados para serem lembrados como base da fé de milhões.
Sepulcros caiados não servem para Deus realizar a sua obra, pois estão fechados por uma grande pedra para não deixar sair seu odor desagradável. Estão sempre fechados para receber as “Marias Madalenas” da vida.
Sepulcros caiados estão tão cheios como todos os demais, mais se ufanam de serem mais bonitos que os demais. Acham-se melhores e mais especiais, mas continuam cheio de morte.
Irmãos, o sepulcro caiado tem algo a nos ensinar também. Quantos não têm vivido uma vida de aparências, um cristianismo de superficialidades? Quanto não se ufanam de serem melhores porque seguem um religião ou estão sempre na igreja? Estão nos cultos dominicais, oram alto e têm a bíblia decorada em sua cabeças, conhece a fundo a palavra, são mais instruindo e falam com eloqüência invejável, mas nunca sentiram de verdade Cristo entrar em sua vidas. Cristo não entrou neles parque não deixaram espaços para ele.
Vestem-se bem e aparentam honestidade, mas estão cheio de engano e mentiras. São respeitados na sociedade, mas tramam maldades ao deitarem. Estão cheios de inveja e ódio. Acusam o mundo de pecador e fecham as portas do céu para aqueles que não concordam com o seu modo de agir. Não estão abertos ao drogado, à prostituta, ao homossexual.
Sepulcros caiados não são nada mais do que sepulcros cheios e um sepulcro cheio é sinal de morte!
3 – O SEPULCRO VAZIO
Mas irmão, a história não acaba por aqui. Jesus não parou no discurso contra os fariseus. Ele não apenas fala, ele age. Jesus não parou no choro diante do sepulcro de Lázaro. O fim da sua vida aqui na Terra não foi dentro de um túmulo.
Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro, tristes e frustradas. Preocupadas em como abriria o túmulo de Jesus. As suas forças não eram suficientes para retirar a pedra da entrada. Certamente angustiadas ao imaginarem o estado em que se encontraria o corpo de seu mestre. Com medo dos soldados que ficaram de vigia.
Com medo, triste, angustiada, frustrada. Madalena estava cheia, mas tudo isso se esvaiu ao verem o sepulcro aberto. O terror da cena é narrado em Lucas quando ele diz que as mulheres ficaram perplexas, sem saberem o que fazer quando iram o túmulo vazio.
Irmãos, quantas vezes não estamos oferecendo especiarias a um deus ainda morto.
A visão do sepulcro vazio pode ser forte demais para muitos de nós, mas sem esse estado não podemos ver a glória de Deus.
O sepulcro vazio é a condição para Jesus entrar. É a condição para termos uma vida verdadeira e com real sentido. Não pasta adornar a entrada, pintar a frente, disfarçar o mau cheiro. O sepulcro precisa estar aberto, vazio, para que possamos ter vida. Sepulcro cheio é morte, caiado não serve. O sepulcro vazio é a base de nossa fé porque aponta para a vida eterna que há em Cristo
Jesus, ao tirar Lázaro do seu túmulo e após ele mesmo ressuscitar do mortos sinalizou para o fato de que muitos túmulos seria vazios.
Irmãos, é preciso que nos esvaziemos de tudo aquilo que cheira a morte, de tudo aquilo que nos apodrece, que nos deixa em estado de decomposição. É preciso que nós nos esvaziemos do pecado, da imundícia, da hipocrisia e maldade. Quando nos permitimos à ação da Palavra de Deus os ossos secos ganham carne e o Espírito de Deus sopra vida outra vez em nós.
O sepulcro vazio transformou covardes em heróis, pescadores e pregadores cheios de poder. O sepulcro vazio transformou o negador e líder fervoroso, transformou pessoas simples em servos de Deus jamais esquecidos na história.
Porém, sepulcro vazio requer renuncia, daquilo que somos e temos. Entrega total das nossas vidas. Para o sepulcro ser vazio precisou do sacrifício de Jesus. O sepulcro vazio requer que nos tornemos anunciador desta mensagem. O sepulcro vazio vai além da pintura exterior, exige não somente uma mudança de comportamento, mas um renovo de vida, uma transformação da mente e do coração, uma limpeza do interior para que o exterior também fique limpo. Exige ver mais do que o material: acreditar no sobrenatural. Exige fé nAquele que vive e por isso mesmo o sepulcro está vazio.
Você está disposto hoje a se esvaziar e a deixar Deus agir em você. Está disposto a deixar Cristo entrar em você? Está pronto a ser mais do que um sepulcro caiado. Está pronto a reconhecer a verdadeira páscoa?
Mas o sepulcro vazio não requer só sacrifícios de nós. Aquele estado fez Madalena ver o próprio Cristo em um novo corpo glorioso e ouvir uma promessa demais maravilhosa: “vão e lá me verão!”.
Jesus hoje diz para você: “Se esvazie, venha a mim e me verão.”
Conclusão
Filipe e o Ovo da Páscoa [1]
Uma professora ensinava uma aula de alunos do terceiro grau. Nesta aula havia uns 10 alunos, todos na faixa de oito anos.
Um dos seus alunos era um menino chamado Filipe. Filipe tinha síndrome de Down. Apesar de aparecer feliz, Filipe mostrava cada vez mais sua sensibilidade. Ele se sentia diferente dos outros alunos.
Se vocês conhecem algumas crianças de 8-10 anos vocês devem saber que as vezes elas podem ser um pouco insensíveis. É justamente nesta idade também que a criança está querendo cada vez mais ser aceito pelos seus amigos.
Infelizmente, Filipe, apesar dos esforços da professora, não foi aceito pelos outros meninos. Mesmo assim, a professora fez tudo possível para que Filipe se sentisse uma parte da turma.
Filipe não escolheu ser diferente. Ele não queria ser diferente dos outros alunos mas ele era. E todos sentiram isso.
Esta professora foi bastante criativa. Um ano, durante a páscoa ela levou para a sua aula dez ovos plásticos vazios. Cada aluno iria receber um ovo. O objetivo era que cada aluno saísse para o jardim e procurasse um símbolo de vida renovada, de vida nova, um símbolo da Páscoa. Depois, eles iam misturar todos os ovos e abri-los para ver o que tinha dentro.
Todos os alunos saíram correndo para achar algo para colocar dentro do seu ovo. Em pouco tempo, todos voltaram e depositaram seus ovos numa mesa. Daí a professora começou a abrir os ovos.
Ela abriu um e dentro tinha uma flor. Todas as criança ficaram admiradas. Ela abriu outro e tinha dentro uma borboleta. As meninas disseram "Ai que lindo! Que bonito!" Os meninos não disseram muita coisa , por que meninos são assim, não é?
A professora abriu um terceiro ovo, mas não tinha nada dentro. Imediatamente todos começaram a rir e gritar "Isso não está certo. Que coisa boba. Alguém errou!"
Foi quando a professora sentiu alguém puxando sua blusa. Ela olhou e viu que Filipe estava ao seu lado.
"É meu" disse Filipe. "É meu." As crianças começaram a rir e dizer "Ai Filipe, você nunca faz nada certo! Você tá sempre por fora!"
"Eu fiz certo, eu fiz" disse Filipe. "É o túmulo. O túmulo está vazio!"
Toda a aula ficou em silencio. Ninguém disse nada. E você pode acreditar, ninguém nunca mais disse a Filipe que ele era estúpido ou que fazia sempre as coisas erradas. De repente Filipe foi aceito pela turma.
Naquele mesmo ano Filipe faleceu. Sua família sabia por muito tempo que ele não ia viver uma vida longa.
Muitas coisas estavam erradas com seu pequeno corpo. No final de Julho, com uma infecção que qualquer um dos seus amigos teriam sobrevivido, Filipe faleceu. Seu velório foi realizado na igreja que os pais dele freqüentavam.
No dia do seu velório, nove crianças de oito anos de idade foram para a frente da igreja e colocaram em cima do seu caixão um ovo de plástico - vazio.
Como o menino Filipe, nosso Senhor Jesus Cristo foi visto e tratado por todos que o conheceram como alguém diferente.
Ele também não foi compreendido. Não foi entendido. Ele foi rejeitado. Foi perseguido. Jesus também deixou uma herança - algo vazio - seu túmulo.
Quando você pensar sobre seu próprio túmulo, com toda sua finalidade, com todo o poder que ele tem sobre você, com toda sua humilhação, lembre-se de uma coisa. Um dia seu túmulo estará vazio - graças a Jesus.
Que Deus nos abençoe a todos.
Amém!
[1] de Harry Pritchet Jr. em Jornal de Teologia de St. Luke's (St Luke's Journal fo Theology) (Junho 1976) citado em "Um Guia de Oração Para Todo o Povo de Deus" (A Guide to Prayer for All God's People), Nashville, Tenn, E.U.A.: Upper Room Books, 1990. pp. 326-329.