IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DE PENDÊNCIAS


Friday, October 26, 2007

REFORMA PROTESTANTE: O LAPSO TEMPORAL DE 490 ANOS



* Rev. Ashbell Simonton Rédua

asredua@yahoo.com.br

Lembrando à Reforma Protestante, o cristão de fé Reformada é levado a situar-se no passado fazendo uma ponte até o presente, esquecendo o lapso temporal de 490 anos (31.10.1517 – 31.10.2007). Neste período a Igreja passou por vários conflitos que de certa forma influenciaram grandemente na formação da Igreja Protestante/Evangélica do Sec. XXI, totalmente ambígua e descaracterizada dos princípios reformados.

Até 31 de outubro de 1517 um monge chamado Martinho Lutero ousou discordar teologicamente da doutrina ensinada até aquele momento, conseguindo provocar grande ruptura na vida Igreja. Um dos temas debatidos na Reforma e que até hoje é debatido nos círculos acadêmicos e eclesiástico é a questão da liberdade com, profundas conseqüências institucionais, políticas, econômicas, culturais e sociais que traduziram sobretudo nos nossos dias .

João Calvino, um dos expressíveis reformadores, escreveu amplamente contemplando nos seus textos a liberdade cristã como um dos pilares da Igreja Reformada, recebendo conceituação ética essencial à vida humana. Tema este que só vim a ter uma compreensão mais profunda após as aulas de Teologia ministrada pelo Rev. Heber de Campos, no curso de Bacharel em Teologia oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A célebre frase Ecclesia reformata et semper reformanda est - A Igreja reformada está sempre se reformando – expressão formulada após a Reforma, e vastamente utilizada neste lapso temporal, precisa ser a tônica da Igreja na atualidade, frente a tantos e urgentes desafios, exigindo da Igreja uma postura mais adequada a pos-modernidade sem abrir mão de seus princípios teológicos-reformados.

A Reforma do Século XVI nasceu com a proposta de contestação, de mudanças radicais nas bases da fé cristã, apresentando-se como um movimento libertador, o que de fato aconteceu. Porém, com o passar do tempo, sofre com o perigo, sempre iminente, de um tradicionalismo rígido, extremamente conservador, paralisante, fechado, descolado da realidade.

Portanto, cremos que se faz necessário e oportuno buscar uma constante reforma, retornar aos fundamentos fé cristã, encontrados nas Escrituras e nas grandes doutrinas pregadas pelos reformadores, a fim de não perdermos nossa identidade reformada e influenciarmos, positivamente, com liberdade, a Igreja Evangélica Brasileira, tão sem direção, em conhecimento bíblico e sem firmeza doutrinária. A partir daí Influenciar também a sociedade, buscando transformações em todas as suas dimensões sócio-política-econômica-social-cultural.

Nesse sentido, o princípio reformado autoriza-nos resgatar o pensamento de Calvino e atualizá-lo diante das demandas atuais naquilo que houver, de fato, necessidade.

Neste Lapso temporal a Igreja precisa:

1. Ter visão de mundo e vida da Cristã juntos.

Deus é Soberano, é Senhor de toda a vida. Conseqüentemente temos a necessidade reconhecermos de que tudo o que buscamos para viver, todos os nossos atos, toda a nossa vida, tudo o que nos envolve, deve ser para para a glória de Deus. Como o Apóstolo Paulo escreveu aos coríntios, “Assim se você come ou bebe ou tudo que que você faz, faça tudo para a glória de Deus(I Cor.10:31). Este é um princípio do crente reformado e que em toda a história Reformada foi levado a sério. O Reformado tem o conhecimento e reconhecimento do Domínio de Cristo sobre todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra. Assim expressou Abraham Kuyper: “Não há uma polegada quadrada no universo inteiro do qual Cristo não pode dizer, “Isto é Meu! “

Tenho que admitir que uma visão do mundo e da vida cristã tem provocando reações na vida eclesiástica, quando desagrutinamos a nossa vida em áreas distintas, incorporando um hedonismo prático entre a vida piedosa e a vida coditiana. Tudo o que estamos fazendo fora dos portões da igreja está sob o Domínio de Cristo. Necessitamos promover o ensino da Soberania de Cristo sobre todas as esferas da vida humana, quer na vida particularmente, quer na vida de outros crentes, quer na vida política, econômica, social, financeira, trabalhista, nos negócios, na saúde pública e privada, nos esportes e em qualquer programa de trabalho.Cristo é Senhor, é Deus absoluto sobre todas as coisas.

2. Busca dos meios de restauração evangelística e missionária, como característica vital da revivificação da igreja.

Igrejas verdadeiramente Reformadas sempre expressaram um compromisso forte nesta área. Alguns dos grandes movimentos missionários do século XX e XXI tiveram suas origens nas missões Reformadas. Missionários Holandeses foram para Indonésia, Presbiterianos Brasileiros para a Africa, Paraguai, Bolívia, Espanha, França, Inglaterra, Nova Zelândia, Estados Unidos da América, Escócia, China e Romênia. As Igrejas Reformadas de África do Sul fizeram muito na evangelização de suas terras em substituição ao continente africano. Nós presbiterianos somos uma parte deste movimento missionário, quando definitivamente foi implantado a Igreja Reformada no Brasil, pelo Missionário Ashbel Green Simonton.

De mãos dadas com esta ênfase em evangelização e missões evidenciamos nossa preocupação por revivificação (restauração). Embora esta palavra sofreu abuso em recentes anos, não há nada tão reformado que a revivificação!

Neste Lapso temporal, Deus derramou o seu Espírito p´ra trazer tempos de refrigério. Homens como Martin Lloyrd-Jones, W. A.Tozer, W. Pinck, Spurgeon, ao longo de seus ministérios mantiveram uma fome saudável pela revivificação. A igreja perdeu sua característica evangelizadora e missionária urbana, praticamente não conseguimos desenvolver uma estratégia evangelística nos grandes centros.

Na vida urbana o individualismo tem suas características profundas, principalmente como produto do medo da violência, medo de perder o emprego, medo de ser assaltado, medo de sair de casa e não regressar pôr ter sido vítima da violência pessoal ou do trânsito, há um pavor enorme cirandando as pessoas urbanas, até mesmo em nossa casa tranqüilo, podemos ser vítima fatal de uma bala perdida das constantes disputas territoriais das quadrilhas.

A individualidade do homem urbano é caracterizado também pôr sua falta de tempo, ele está sempre correndo daqui para acolá, vivendo numa dimensão a beira da loucura.

Os filhos são criados pela empregada doméstica, na verdade o relacionamento de pai para com filhos é muito informal e o relacionamento de esposa e esposo tem características hedonista, principalmente afirmado nas palavras de Vinícius de Morais, “o amor é eterno enquanto dura”. O casamento é mais visto com um contrato social, em que duas partes fazem um acordo que a qualquer hora possa ser rescindido.

3. Ter Unidade e Identidade

Vivemos em conflitos pôr causa das migalhas. Parece que não sabemos mais o que é essencial na Igreja, pôr causa das nossas idiossincrasias, nossa pequenez, nosso egoísmo, nossa intransigência, nosso doutrinarismo individualista e divisionista, nós nos dividimos.

Praticamente podemos dividir a igreja em vários grupos: “os tradicionais, carismáticos e liberais”. ampliarmos mais esta divisão podemos encontrar: tradicionais, conservadores, pentecostais, reavivalistas e liberais. A Unidade é uma das marcas da verdadeira Igreja, da verdadeira comunhão santa da Igreja com Jesus Cristo. Os santos vivem em união, portanto a unidade deve ser o resultado natural da compreensão da natureza do ser de Deus.

4. Revitalização da Vocação Pastoral

Às vezes desejo saber se existe fome por revivificação em nossas igrejas. Temos visto muitos aberrações e por isso estamos cansamos. Precisamos ser desafiados novamente.

Precisamos estar orando para revivificação da Igreja? Às vezes me pergunto: porque tão poucos homens vieram a ser chamados e treinados para o ministério pastoral nos últimos anos.

Aquele que sentia-se vocacionado para o ministério, sentia-se agradecido a Deus pôr esta vocação, a sua igreja local e sua família de deliciavam de gratidão pôr esta vocação. Era comum os pais orarem a Deus pôr um filho homem, e, quando este nascia, os pais consagravam-no e dedicavam-no a obra do Senhor. Era sonho das solteiras casarem-se com um pastor, era sonho das mães terem um filho ou um genro pastor.

Atualmente o que é corrente em nosso meio, que somente é pastor, aquele que não conseguiu ser nada na vida. As mães não oram mais a Deus pedindo um filho homem, porém se nasce homem, ele deve ser tudo na vida, menos pastor. Pastor hoje é sinônimo de pobreza, solidão, angustia. A crise vocacional é acentuada ainda com a visão tecnocrata do ministério pastoral. A idéia da Igreja como empresa e o pastor como executivo. A visão do crente não é mais a visão do homem espiritual, crente, fiel a Deus, mas é a visão de um empresário e uma empresa.

Ao perder-se a visão espiritual do ministério, a visão pedagógica, a igreja passa a determinar todas as regras em que o pastor deve obedecer. Se ele obedece as diretrizes da igreja, este permanecerá pôr longo tempo nesta igreja, porém se ele descordar, é mandado embora. É preciso termos em conta que qualquer pastor que opta pelo trabalho espiritual e pedagógico da igreja, terá de líder com questões que consequentemente ferirá uns ou trará descontentamento a outros. Neste caso seguindo os preceitos Bíblicos ele não será um pastor bom, fiel e sincero as instituição religiosa que o contratou. É comum então observarmos o marketing na Igreja, que reflete esta visão tecnocrata.

Conclusão

A Reforma tem grande implicação para a Igreja de hoje, tais como:

1. A Reforma resgatou o conceito de pecado

2. A Reforma pregou a doutrina da Justificação somente pela Fé

3. A Reforma resgatou o conceito da autoridade vital da Palavra de Deus

4. A Reforma redescobriu na Palavra a doutrina do Sacerdócio Individual do Crente

5. A Reforma apresentou, de forma clara e inequívoca, o conceito de Soberania de Deus.

Devemos reconhecer a Reforma como um movimento operado por homens falíveis, mas poderosamente utilizados pelo Espírito Santo de Deus para resgatar Sua verdade e preservar a Sua Igreja.

Soli Deo Gloria



*Rev. Ashbell Simonton Rédua – Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbitério do Norte (Recife-PE), em 1989, Bacharel em Teologia com Especialização em Capelania, pelo Seminário Teológico Evangélico do Nordeste (Recife-PE), 1990, Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo (2006), Especialização em Bíblia pelo Centro de Pos-Graduação Andrew Jumper, Graduando em Direito pela Centro Universitário Plínio Leite, e Especializando em Direito Ambiental pela Universidade Gama Filho Currículo completo http://lattes.cnpq.br/9018318255138280


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